As empresas de papel e celulose há tempos tem enfrentado questionamentos sobre sua atuação e os aspectos ambientais, muito em função da sua característica, de uso intensivo de recursos naturais. Adicionalmente, os países vêm gradativamente fortalecendo as regulamentações ambientais, em um movimento que cada vez mais ganha contornos globais. 

Esse cenário provoca mudanças na indústria e estimula a busca por inovações para garantir as operações, como por exemplo a utilização de novas formas de matéria-prima, como a fibra reciclada. 

Entretanto, ater-se apenas as questões regulatórias pode limitar o potencial valor que movimentos como esse podem trazer. Expandir as ações para todas as áreas, englobando até mesmo a cadeia produtiva, pode representar novas oportunidades, produtos mais adequados aos interesses da sociedade e a abertura de novos mercados. 

Replantar florestas, reduzir o consumo de água, controle das emissões atmosféricas, entre outras ações relevantes, obviamente deve estar na agenda sustentável de toda empresa de papel e celulose, mas adicionar sustentabilidade aos critérios usados para avaliar negócios existentes e explorar novas oportunidades pode elevar as decisões a um outro nível, levando ao abandono de ideias que analisadas puramente pela ótica financeira poderiam parecer atrativos. 

Até recentemente, as oportunidades de negócios relacionadas à sustentabilidade eram bastante limitadas à queima de resíduos em caldeiras ou a transformação em cavacos de madeira. No entanto, os avanços técnicos têm gerado outras opções, como por exemplo a utilização de fibras celulósicas em substituição ao plástico, adicionar valor agregado a subprodutos ou mesmo aplicações para celulose microfibrilada (que propicia aumento de resistência mecânica aos materiais). 

De fato, muitas empresas do setor já adotaram uma estratégia de integração horizontal em bioenergia e estão gerando receitas significativas ou reduzindo seus custos substancialmente. O desafio para os líderes é incorporar esse tipo de enfoque de longo prazo nos negócios, apesar das diversas demandas de curtos prazo que exigem ação imediata. 

Além da busca por uma pegada mais sustentável, é preciso ser transparente, de uma forma proativa, em suas ações e realizações com a sociedade e cadeia de valor. Os relatórios de sustentabilidade que a maioria destas empresas agora produzem podem ajudar a demonstrar o compromisso nesta frente. 

Tomamos este atalho em nossa análise com o objetivo de mostrar que qualquer plano de recuperação e posicionamento em um cenário pós-pandemia deve levar em consideração as novas demandas sociais por uma economia mais verde. 

Superando Desafios – Contornos no pós-pandemia 

Á medida que as empresas adquirem maior visibilidade sobre o cenário econômico e as consequências da pandemia, aumentam sua capacidade de reconfigurar seus modelos operacionais. Para sustentá-los neste novo normal, há que se considerar alguns aspectos: 

  • Revisão das prioridades estratégicas de modo mais frequente – Uma prática que se mostrou benéfica na pandemia foi rever com frequência as prioridades estratégicas. Essa revisão pode assumir a forma de check-ins trimestrais da equipe executiva para avaliar as iniciativas existentes e determinar se é para acelerar, evoluir ou pará-las, determinando a transformação de um processo de planejamento estratégico espaçado para um formato mais dinâmico. As principais decisões estão sendo tomadas com mais rapidez e o Lean Office ganha força.

Continua a busca pelo próximo nível de otimização de custos – Um dos pontos de maior atenção durante a pandemia, a busca por oportunidades de otimização na curva de custos na indústria de papel e celulose permanece como um fator crítico após a crise, podendo gerar:

  • Busca por matérias-primas de baixo custo, principalmente fibra.
  • Foco na redução de custos operacionais de papel e cartão.
  • Abertura para a digitalização da produção, com possibilidade de redução de custos fixos em até 15%.
  • Avaliação dos benefícios em se manter parte da equipe trabalhando remotamente, pois contribui para a redução de custos administrativos.
  • Força de trabalho flexível – A crise do COVID-19 aumentou dramaticamente a experimentação com modelos de trabalho flexíveis. O uso de aplicativos de videoconferência disparou e as organizações se tornaram mais hábeis em trabalhar remotamente. Uma consequência direta é a mudança nas relações de trabalho, possibilitando que talentos colaborem para empresas que não competem entre si.

Uso cada vez maior de analyticse inteligência artificial – As tecnologias digitais, novas possibilidades de conectividade, inteligência artificial e análise avançada de dados continuarão a viabilizar novos níveis de produtividade nas operações de celulose e papel, aproveitando grandes quantidades de dados de produção para fornecer melhores percepções e resultados. Os inovadores digitais bem-sucedidos estão obtendo ganhos de rendimento de 5% a 10%, e economia significativa em materiais e energia. Cada vez mais teremos contribuições em:

  • Modelos de planejamento de produtividade florestal.
  • Mecanização da silvicultura.
  • Pátio de madeira automatizado.
  • Inteligência artificial nas paradas de manutenção.
  • Analytics para packing e finishing.
  • Vendas digitais (B2C ganha mais força que o B2B)
  • Precificação dinâmica e customizada.
  • Veículos autoguiados para transporte de madeira.

Foco em inovação – Por fim, as empresas de papel e celulose há muito perceberam a importante de investir em inovação, novos materiais e formas de produzir. A pandemia acelerou esse processo e, junto com as exigências de uma sociedade cada vez mais voltada as questões ambientais, impôs um desafio de moldar o futuro a uma velocidade maior. Poderemos ver, mais breve do que imaginamos, a seguinte transformação:

 

SUPERANDO OS DESAFIOS NA INDÚSTRIA DE PAPEL E CELULOSE