O mercado global da siderurgia vem em constante crescimento de produção de aço bruto desde 1950, sendo, sem muita surpresa, impulsionado pela China que em 2021 deteve uma fatia na ordem de 53% da produção global somando mais de 1 bilhão de toneladas. Na sequência, os maiores produtores se dão pela Índia, que produziu 118 milhões e Japão com 96 milhões de toneladas, representando 6% e 5%, respectivamente do aço bruto produzido no mundo.  

Dentre os 40 países mais representativos na produção Mundial de Aço Bruto, 37 tiveram aumento no seu ritmo produtivo em relação ao ano anterior, mostrando uma recuperação global, com destaque negativo para a China, que teve redução de aproximadamente 34 milhões de toneladas no ano, o que compete uma redução de 3,2% em relação ao ano anterior. 

CHINA 

A demanda por aço na China é influenciada pelo investimento em infraestrutura e mercado imobiliário que representam cerca de 60%, seguida por máquinas (20%) e automóveis (14%), ficando os 7% restante direcionado aos demais usos. Apesar da produção recorde de aço em 2021, especialistas indicam uma possível desaceleração do crescimento da produção da China nos próximos anos, impulsionada por políticas governamentais que impactam a demanda de aço na construção, máquinas e siderúrgicas. 

O surto do corona vírus provocou uma das maiores crises das siderúrgicas chinesas dos últimos anos, com obras paralisadas e fábricas reduzindo a produção drasticamente, a demanda praticamente se congelou, mas as usinas não pararam de produzir muito devido a questões técnicas e operacionais que demandam uso do alto-forno em funcionamento constante. Como resultado, os estoques acumularam milhões de toneladas, os preços foram derrubados e as margens pressionadas. Um comparativo dos dados da World Steel Organization mostra que a China chegou a produzir cerca de 69 milhões de toneladas a mais em 2020 quando comparado ao ano anterior, deixando evidente a força do setor mesmo em meio à pandemia do Covid-19. Já em 2021, as chinesas tiveram uma queda de produção, mas ainda mantiveram valores superiores a 2019. 

Um dos grandes influenciadores desta redução está relacionado às políticas de descarbonização dos processos industriais. As siderúrgicas chinesas respondem por cerca de 15% das emissões de carbono no país, fato que leva movimentos do governo em adotar medidas de restrição na produção, incluindo a suspensão de operações de alto fornos com a finalidade de reduzir o nível de partículas que muitas vezes são expressivamente maiores que o permitido pelas diretrizes da Organização Mundial de Saúde. Essas restrições reduzem a demanda de minério de ferro, oscilam os preços do aço e geram impactos nas tentativas do governo chinês em frear os preços das commodities. Segundo a World Steel Organization, em 2018 cada tonelada de aço produzida emitiu em média 1,85 toneladas de dióxido de carbono. 

O governo chinês se comprometeu em adotar medidas e esforços para atingir o pico das emissões de dióxido de carbono até 2030, com um plano de neutralidade até 2060. Com isso, as chinesas intensificaram os planos de investimento com foco em emissões ultrabaixas e consumo de energias verdes, estimando na ordem de US$ 40,7 bilhões para transformar suas operações. Algumas ações previstas para reduzir as emissões de carbono da China consistem no controle da capacidade de aço, atualização da tecnologia de alto-forno e o aumento na utilização de EAF (Forno Elétrico a Arco). 

As ações de sustentabilidade na China já começam a dar sinais de iniciativas conjuntas com o mercado brasileiro, onde empresas brasileiras e chinesas começaram a desenhar soluções que foquem na redução das emissões de gases de efeito estufa no setor da siderurgia, sinalizando o avanço tecnológico no tema de sustentabilidade. 

UM OLHAR PARA O AÇO NO MUNDO

 

POR QUE O AÇO SUBIU TANTO? 

O Brasil permanece na 9ª posição dos principais produtores mundiais, com 36 milhões de toneladas produzidas em 2021, ou seja, aproximadamente 3,5% da produção da China. Embora se mantenha estático no ranking mundial, esse volume confere um aumento de 14% em relação à produção do ano de 2020, demonstrando uma recuperação e evolução do setor que estava em queda nos dois anos anteriores. Já diante dos países produtores na América Latina, o Brasil é o país de maior destaque, produzindo quase o dobro do segundo maior produtor, o México. É evidente que o mercado do aço está aquecido e com tendências positivas para o futuro. 

Segundo o instituto Aço Brasil, mais de 80% do aço no país é produzido por usinas integradas, ou seja, que produzem aço realizando todo o processo industrial de redução, refino e processamento, o restante é produzido em usinas semi integradas, que transformam o aço a partir de ferro gusa, ferro-esponja e/ou sucata, realizando apenas o processo de refino e processamento. O consumo aparente aponta que as maiores demandas e vendas internas estão relacionadas à produção de bobinas a quente, vergalhões, chapas zincadas a quente, bobinas a frio e bobinas grossas, enquanto o mercado de exportação é majoritariamente representado por produtos semiacabados como placas de aço carbono. 

Durante o ano de 2020 e grande parte de 2021 as fábricas adotaram processos de estocagem, reduzindo as vendas no mercado interno. Este cenário vem evoluindo em 2022 com resultados positivos e consecutivos, indicando a interrupção nas quedas de vendas. O valor do aço tem sido impactado pelas matérias primas específicas como carvão mineral, gás natural e níquel que vem sofrendo expressiva elevação de preço. 

A pandemia do covid-19 trouxe impactos expressivos no mercado automobilístico, a produção de automóveis do Brasil foi limitada por uma escassez global de semicondutores, pois as operações de montagem e teste no Sudeste Asiático foram afetadas, entretanto este cenário tem se ajustado nos últimos meses com tendência de normalização até o segundo semestre de 2022. Com o retorno da produção, especialistas desenham cenários onde o mercado de aluguel de carros gere o aquecimento do setor, podendo aumentar a demanda de aços planos neste ano. 

Além disto, o mercado imobiliário conseguiu se manter durante a pandemia. Diversos lançamentos agressivos foram iniciados nos últimos dois anos e o faturamento da construção civil teve o melhor resultado dos últimos anos em 2021, acompanhando o fenômeno global do mercado. 

Mesmo assim, o mercado sentiu a repentina e constate alta do aço. A pandemia gerou incertezas que indicavam retração na demanda, levando as siderúrgicas a reduzirem o ritmo de produção, mesmo em um cenário onde a cadeia logística não trabalhava com grandes volumes de estoque. Quando a demanda retornou de forma acelerada, a retomada não venceu e agravou o desabastecimento, gerando reflexos em toda a cadeia por falta de estoque e alta do preço, gerando impactos expressivos na indústria da construção que vinha seguindo de forma acelerada. 

 Atualmente, os impulsionadores do preço do aço estão relacionados à guerra entre Ucrânia e Rússia uma vez que o mercado enfrenta a alta de custos de matérias-primas e insumos energéticos, agravados ainda pelo impacto no setor logístico global que elevou o preço do frete marítimo e causou efeito em toda a cadeia de suprimentos.