O setor siderúrgico desempenha um papel fundamental na economia global, sendo um dos principais indicadores de crescimento industrial. Em 2025, a indústria enfrenta desafios como oscilações nos preços das matérias-primas, demanda instável e regulamentações ambientais mais rigorosas.
Globalmente, a produção de aço bruto atingiu 1,85 bilhão de toneladas, com destaque para a China, que sozinha produziu 53% do total. Outros principais produtores incluem Índia (10%), Japão (5,8%) e Estados Unidos (4,5%).
Conforme projeções do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), os investimentos na indústria mineral devem atingir US$ 64,5 bilhões entre 2024 e 2028, um incremento de cerca de 28,8% em comparação à projeção anterior de US$50,04 bilhões até 2027.
No atual cenário, o Brasil tem todos os elementos para se tornar um motor da transformação energética global em rápida evolução. O país abriga alguns dos maiores depósitos do mundo de minerais essenciais, o que viabiliza a transição de combustíveis fósseis. Em 2024, o Brasil produziu 33,5 milhões de toneladas, uma leve queda de 2,1% em relação a 2023.
Por outro lado, o consumo aparente de aço foi de 22,4 milhões de toneladas, representando um crescimento de 3,8%. Em terras brasileiras, o setor siderúrgico contribuiu com 1,2% do PIB nacional e gerou cerca de 120 mil empregos diretos.
Outro destaque é que, além de exportar minerais como matérias-primas, a siderurgia no Brasil também está buscando desenvolver cadeias de valor de minerais essenciais em casa, alavancando sua liderança em energia renovável. Com isso, o país pode emergir como um pioneiro em tecnologia verde e soluções para mudanças climáticas.
Sobre esse tema, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023 (COP28) reforçou a mensagem de que a mineração pode liderar esforços de combate às mudanças climáticas. De tal maneira, o Brasil tem uma oportunidade única nesse contexto, com potencial de investimento estimado em US$ 1,2 trilhão até 2030. O crescimento do setor deve ser alavancado pela demanda por minerais estratégicos para tecnologias limpas e renováveis.
Mas, afinal, o que esperar da siderurgia brasileira nos próximos anos? Neste artigo, listamos os desafios e as oportunidades do setor. Confira!
Os desafios do Brasil na corrida global de minerais críticos
A competição global por minerais críticos está aumentando rapidamente por meio de tentativas de diversificação de fontes de suprimento, inovação tecnológica e por causa de esforços geopolíticos para limitar a dependência da China. Novos países produtores estão surgindo à medida que a demanda por minerais críticos aumenta.
Enquanto isso, as tecnologias que tornam a transição energética possível estão em constante evolução. De tal modo, os minerais demandados hoje podem não ser os usados no futuro. Por essa razão, há uma janela de oportunidade para nações com grandes depósitos de minerais críticos tentarem atender às necessidades atuais do mercado.
Com projetos de mineração levando décadas para decolar, é do interesse do Brasil aproveitar prontamente o momento. O desenvolvimento de sua riqueza mineral crítica está no radar dos governos brasileiros há quase duas décadas, mas a produção do Brasil continua aquém de seu potencial de reserva.
Minerais críticos explorados no Brasil
O Brasil é um gigante na produção de minerais, sendo que alguns deles são considerados críticos para a economia global, especialmente para a transição energética e o desenvolvimento de tecnologias limpas. Os principais são:
- Nióbio: o país detém a maioria das reservas mundiais de nióbio, essencial para ligas metálicas de alta resistência;
- Grafite: importante para baterias de veículos elétricos e outras tecnologias de armazenamento de energia;
- Terras Raras: grupo de minerais usados em diversas aplicações de alta tecnologia, como ímãs permanentes e componentes eletrônicos.
- Lítio: essencial para baterias de íon-lítio, com crescente demanda devido à eletrificação dos transportes;
- Níquel: utilizado em ligas metálicas e baterias, com potencial de crescimento na produção brasileira.
Esses minerais são fundamentais para tecnologias avançadas, que vão de baterias de veículos elétricos a sistemas de energia renovável e eletrônicos de alta tecnologia. Ou seja, são estratégicos na condução da inovação tecnológica e do desenvolvimento sustentável.
A título de exemplo, a indústria de lítio do Brasil é prova de seu potencial crítico de minerais. Em menos de dois anos, o país passou de zero exportações para o quinto maior exportador de lítio em 2023, com projeções de um aumento de produção de cinco vezes nos próximos cinco anos. Em Minas Gerais, o “Vale do Lítio” abriga 11 projetos, enquanto outras regiões brasileiras permanecem inexploradas.
Brasil investe US$ 815 milhões no mercado de minerais
O contexto global das cadeias de suprimento de minerais críticos tem se tornado cada vez mais complexo. Sabendo disso, líderes de países em todo o mundo estão correndo para garantir recursos estáveis para o desenvolvimento tecnológico. Afinal, no atual cenário, o acesso a esses minerais é essencial para o crescimento econômico e a segurança nacional.
Com um vasto e rico potencial de recursos minerais, o Brasil tem uma oportunidade única para diversificar as cadeias de suprimento de minerais globais e reduzir a dependência de fornecedores dominantes como a China.
Tanto é verdade que o trabalho do governo federal tem sido direcionado posicionar o Brasil como um player crítico no mercado global de minerais. Com o investimento de quatro bilhões de reais (aproximadamente US$ 815 milhões), viabilizado Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o objetivo é remodelar o cenário tecnológico e econômico do país, priorizando minerais essenciais para tecnologias emergentes.
Os investimentos serão destinados para iniciativas que impulsionam a extração e o processamento de minerais críticos. O governo considera esse um passo crucial para atingir as metas de desenvolvimento sustentável e tecnológico. O financiamento terá como alvo minerais específicos críticos para aplicações tecnológicas modernas.
Na prática, o investimento será direcionado, principalmente, para o desenvolvimento de cadeias de suprimentos nacionais robustas e no suporte a processos de fabricação inovadores. A expectativa é gerar entre 25 e 50 bilhões de reais em valor econômico potencial, impulsionando o crescimento do Brasil.
Como o investimento no mercado de minerais pode fortalecer as cadeias de suprimentos?
Com os altos investimentos nesta estratégia, o Brasil pode avançar e se destacar no mercado em várias frentes:
- Redução da dependência global de minerais: ao aumentar a produção nacional, o Brasil pode diminuir a dependência global de alguns fornecedores dominantes.
- Criação de oportunidades de parcerias nacionais e internacionais: a iniciativa abre portas para colaborações com empresas globais de tecnologia que buscam suprimentos minerais estáveis.
- Integração de tecnologias avançadas na produção mineral: a modernização das técnicas de extração e processamento aumentará a eficiência e a sustentabilidade.
Ao desenvolver cadeias de suprimentos abrangentes, o Brasil visa se posicionar como um fornecedor global essencial de minerais críticos, aprimorando capacidades econômicas e tecnológicas.
Com essa abordagem, o país acompanha a tendência de outros que vêm se destacando. O Canadá, por exemplo, está impulsionando seu papel no mercado global de baterias por meio de iniciativas como o desenvolvimento da refinaria de carbonato de lítio em Bécancour, Quebec.
Implicações geopolíticas: investimentos contribuem para redefinir os mercados minerais globais
A estratégia de investimento no setor carrega um peso geopolítico significativo para o Brasil, contribuindo para reduzir a dependência do domínio mineral da China. Atualmente, o país controla uma parcela substancial do suprimento mundial de elementos de terras raras e outros minerais crítico
Neste cenário, ao desenvolver seus próprios recursos minerais, o Brasil obtém uma série de vantagens únicas, tais como:
- Aumentar a diversificação do mercado global de minerais: com novas fontes, é possível reduzir os riscos associados a interrupções no fornecimento.
- Fortalecer a independência tecnológica: a produção nacional diminui a dependência de fornecedores estrangeiros para materiais essenciais.
- Criar novas parcerias econômicas internacionais: o Brasil pode se tornar um parceiro preferencial para países que buscam suprimentos minerais confiáveis.
O país possui uma capacidade instalada de 50 milhões de toneladas/ano, mas a utilização média está em 67%. Em 2024, a produção de aço laminado foi de 23,7 milhões de toneladas, com destaque para aços planos (14,2 milhões de toneladas) e aços longos (9,5 milhões de toneladas).
Entre os principais consumidores de aço, é importante destacar alguns setores:
- Construção civil: 38% do consumo de aço;
- Indústria automotiva: 24%;
- Bens de capital e máquinas: 18%;
- Outros setores: 20%.
Em 2024, o Brasil exportou 11,2 milhões de toneladas de aço, um aumento de 5,5% em relação ao ano anterior. Veja os principais destinos da exportação de aço:
- Estados Unidos (37%)
- Europa (25%)
- América Latina (20%)
O volume de receita com exportações de aço chegou a render US$ 7,3 bilhões para o país. No comércio exterior do setor siderúrgico, o Brasil também importa aço. Em 2024, foram importadas 4,9 milhões de toneladas de aço, um crescimento de 7,2%, com destaque de fornecedores como China, Rússia e Turquia. Porém, a importação gera um impacto negativo sobre a indústria nacional devido ao baixo custo dos produtos estrangeiros.
Com tanto potencial, o investimento do Brasil no setor está alinhado às tendências globais. No Chile, por exemplo, o governo está fazendo investimentos significativos em mineração. O país já alcançou a marca de US$ 83 bilhões em recursos, direcionados para transformar e fortalecer o mercado mineral do chileno.
Além disso, o investimento privado no avanço de projetos de desenvolvimento mineral tem um papel decisivo, porque permite garantir o financiamento e a expertise necessários para a maturidade desse mercado.
Neste cenário, empresas e investidores estão cada vez mais olhando para minerais estratégicos como oportunidades lucrativas. Dessa forma, entender como se envolver efetivamente com mercados privados pode acelerar o desenvolvimento e a implementação de projetos.
Nos últimos anos, a produção nacional de aço apresentou crescimento moderado, acompanhando a recuperação da economia e investimentos em infraestrutura. Além disso, o consumo interno de aço aumentou, impulsionado pelas demandas da construção civil e do setor industrial.
Igualmente importante é compreender as tendências do mercado de siderurgia, para saber como se posicionar de maneira competitiva. A seguir, listamos as principais tendências do setor:
- Sustentabilidade: expansão da siderurgia verde, com foco em descarbonização e produção de aço com menor impacto ambiental.
- Digitalização: crescente adoção de tecnologias como automação, inteligência artificial e análise preditiva na produção.
- Reciclagem e Economia Circular: maior reaproveitamento de sucata metálica para reduzir custos e impactos ambientais.
- Diversificação de Mercados: a indústria busca novos nichos, como setores de energia renovável, mobilidade elétrica e infraestrutura inteligente.
Oportunidades de atuação no setor siderúrgico
1. Expansão da Indústria Verde e Sustentável
A crescente demanda por aço com menor pegada de carbono cria oportunidades para consultorias que auxiliam na transição para processos mais sustentáveis, como uso de hidrogênio verde e captura de carbono.
Além disso, certificações ambientais e desenvolvimento de estratégias ESG estão em alta.
2. Crescimento de Infraestrutura e Construção Civil
O aumento dos investimentos em infraestrutura no Brasil e no exterior impulsiona a demanda por aço estruturado e materiais metálicos especializados.
Por sua vez, a oferta de consultoria em otimização de processos construtivos e engenharia modular pode ser uma frente valiosa.
3. Reindustrialização e Novos Mercados
Os incentivos governamentais para a reindustrialização no Brasil podem abrir portas para novos projetos siderúrgicos e metalúrgicos.
Neste sentido, o crescimento da indústria automotiva, naval e aeroespacial também gera oportunidades para metais de alto desempenho.
4. Digitalização e Automação dos Processos
A adoção de tecnologias como IoT, inteligência artificial e análise preditiva na produção de metais pode gerar demanda por serviços de consultoria tecnológica.
Em termos de tecnologia, o aumento do uso de gêmeos digitais e modelagem avançada para eficiência operacional é outra tendência forte.
5. Expansão do Mercado de Reciclagem e Economia Circular
Com o aumento da demanda por aço reciclado e a necessidade de reduzir resíduos, empresas que oferecem soluções em reaproveitamento e logística reversa ganham espaço.
De maneira semelhante, a oferta de consultoria para melhorar processos de reciclagem e reaproveitamento de resíduos metálicos pode ser um diferencial.
Conclusão
Com o investimento no mercado de minerais brasileiro, é certo que uma série de impactos econômicos e tecnológicos poderão ser observados como resultados promissores dessa abordagem estratégica.
Dessa maneira, será possível impulsionar a inovação na extração e processamento de minerais, a partir da implementação de tecnologias de ponta que podem aumentar a eficiência e reduzir o impacto ambiental.
Para 2025, as perspectivas apontam para um crescimento do setor, com aumento de 2,5% na produção nacional de aço em 2025. No Brasil, o consumo deve crescer 3,2%, impulsionado por obras de infraestrutura.
Contudo, o país precisa superar desafios importantes, como a manutenção do seu potencial competitivo frente à China e outros exportadores. Além disso, uma regulação ambiental mais rígida pode elevar os custos de produção da indústria siderúrgica.
Para fortalecer o setor, a adoção das inovações tecnológicas é parte fundamental de uma estratégia exitosa. Com iniciativas como o investimento em inteligência artificial e digitalização para otimizar processos, as empresas têm muitas possibilidades de crescer.
De outro modo, elas também devem acompanhar o desenvolvimento de aços de alta resistência, movimento importante no setor, para aplicações na indústria automotiva e construção.
A volatilidade dos preços das matérias-primas afeta a previsibilidade dos investimentos.
Além disso, o fortalecimento do setor tende a criar oportunidades de emprego em alta tecnologia, com abertura de vagas em engenharia, pesquisa e mão de obra qualificada.
Por fim, como resultado maior, o Brasil tem tudo para se posicionar como um fornecedor essencial de minerais, um player-chave que atrairá parcerias e investimentos internacionais.
O comprometimento do Brasil em desenvolver seu setor estratégico de minerais posiciona o país para capitalizar a crescente demanda global por esses recursos. Ao fomentar uma indústria sustentável e tecnologicamente avançada, o Brasil pode contribuir significativamente para as cadeias de suprimentos globais, ao mesmo tempo em que estimula sua economia. Gostou do conteúdo e quer saber mais sobre as indústrias de metais e minerais no Brasil? Continue acompanhando o blog da Verum Partners.
Créditos técnicos:
João Palhares – Master Consultant na Verum Partners
Lucas Carvalho – Diretor de Metais na Verum Partners
Thiago Campos – Diretor Industrial na Verum Partners
Referências:
Anuário da Siderurgia 2025
Aço Brasil