O exercício de busca pelo entendimento do impacto de um cenário de baixa Colaboração sobre os resultados de um projeto torna-se muito vívido e palpável para aqueles que porventura venham a se arriscar em uma empreitada de renovação/construção de suas moradias. Afinal de contas, imaginemos o seguinte cenário:

Você acabou de comprar um apartamento novo na planta, o que representa a realização de um grande sonho pessoal. A seguir passamos pelas principais etapas típicas da realização do sonho em questão e como elas são permeadas pelo paradigma da Colaboração. Durante a Construção do empreendimento, sob a sua ótica, a Construtora responsável trata-se da contratada principal para execução do escopo do projeto. Entretanto, você já sabe que para que o apartamento se torne parecido com o dos seus sonhos serão necessárias algumas intervenções: gesso, revestimento, iluminação, movéis e etc. Assim sendo, nesse momento, você não está muito distante da realidade dos maiores players/owners do mercado de Projetos de Capital e Infraestrutura à parte pela dimensão da iniciativa.

Nesse cenário, é muito comum que o proprietário se sinta mais confortável em centralizar as informações gerais em relação aos diferentes escopos a serem executados. Afinal de contas, para que compartilhar com o Pedreiro o que será feito pelo Eletricista? Qual o interesse em que o responsável pelo Gesso conheça um pouco mais sobre o escopo de Pintura a ser executado? Apesar de um comportamento natural, tal mindset, aliás também extremamente presente no setor de Projetos de Capital e Infraestrutura, pode ser prejudicial ao resultado global do Projeto. Quando conseguimos promover a Colaboração entre os diversos envolvidos em um projeto temos incontáveis benefícios mensuráveis:

  • À medida em que todos conhecem minimamente o escopo das demais disciplinas que possuem interface com suas atividades, reduz-se bastante a ocorrência de retrabalhos, à medida em que se corre menos risco de o Pintor necessitar refazer uma mão de massa que tenha sido feita em metodologia diferente pelo Pedreiro, de que o responsável pelo Gesso tenha que refazer algum acabamento após o término da furação paraa instalação da estrutura eletrotécnica, dentre muitas outras ocorrências. Com isso experimenta-se um enorme ganho de Qualidade para o Projeto;
  • Além disso, a Produtividade dos diferentes contratados também tende a aumentar bastante, à medida em que todos conseguem expor e negociar as condições ótimas para que executem suas atividades, promovendo maior coordenação no canteiro de obras e evitando movimentos e atividades desnecessárias;
  • A Segurança então é algo extremamente favorecido pelo cenário de Colaboração. Por que expor o pedreiro a ter que realizar uma furação em condições inadequadas após a instalação de uma peça de mármore por exemplo? Por que submeter o responsável pela parte elétrica ao risco de atividade simultânea com outras disciplinas, principalmente caso não sejam aplicadas medidas de controle adequadas? Através da Colaboração esses e muitos outros pontos podem ser evitados.
  • Após os exemplos acima, percebe-se claramente a mudança de patamar na Previsibilidade dos resultados do projeto em um cenário colaborativo. Todos conseguem nesse caso contribuir para o sucesso global do empreendimento.

Saindo agora do cenário acima descrito e abstraindo para o contexto de Projetos de Capital e Infraestrutura fica simples o estabelecimento de correlações, não é? Enquanto em nosso exemplo doméstico tratávamos de equipes de Pintura, Elétrica, Gesso, Móveis, nos Projetos de Capital e Infraestrutura tratamos de equipes de Terraplenagem, Civil, Montagem, Comissionamento e etc, podendo cada uma dessas disciplinas possuírem incontáveis subdisciplinas. Assim como exemplificado acima, essas diferentes entidades envolvidas em Megaprojetos também possuem interfaces praticamente diárias e escopos extremamente interconectados. Nesse caso podemos notar uma das grandes necessidades do Setor de Construção: precisamos nos tornar mais colaborativos!

Entretanto, apenas a constatação acima não se apresenta suficiente para “mudar o jogo”. É nesse ponto que existem diversas metodologias, processos e ferramentas disponíveis atualmente para nos subsidiar na busca pela Excelência em nossas empreitadas.

Tudo começa com a criação de um cenário Contratual que favoreça a Colaboração. O IPD (INTEGRATED PROJECT DELIVERY), por exemplo, nos fornece uma forma de alavancarmos entornos colaborativos nas relações contratuais, por meio de uma gestão eficiente com foco em dirimir conflitos e potencializar a colaboração. Nesse ponto criamos um cenário fértil para que o “Pintor” ou o “Eletricista” se sinta confortável para pedir ajuda em momentos de necessidade e compartilhar à montante situações que poderão se tornar problemas maiores no futuro para que ações possam ser tomadas com agilidade.

Através de uma filosofia de estruturação do escopo dos Projetos que possibilite uma gestão adequada de elementos de Suprimentos e Engenharia de modo que os mesmos estejam alinhados à estratégia de Construção garante-se que tenhamos ganhos de produtividade e previsibilidade. Tal ponto atrelado a rotinas colaborativas para definição da metodologia executiva e coordenação macro entre as partes envolvidas são fornecidos com maestria pela Metodologia AWP.

Uma vez bem compartimentado o escopo, a estratégia de execução do projeto passa a ser desdobrada aos diferentes níveis tático e operacionais garantindo alinhamento entre todos os envolvidos. Nesse momento, temos condição de entrar no detalhe de cada cômodo, garantindo que conheçamos exatamente a sequência ótima para execução de seu escopo completo, desde a execução do gesso, instalação da iluminação, pintura, móveis e etc. É durante essa etapa que devemos procurar garantir que cada “lote” ou elemento mínimo gerenciável esteja suficientemente detalhado, livre de restrições e pronto para ser executado por seu responsável. Através do fomento do Mindset Lean podemos conseguir esses e muitos outros pré-requisitos para que consigamos garantir o projeto no prazo, na qualidade e no custo pactuado.

Além disso, é de conhecimento geral de todos aqueles que já fizeram o exercício de coordenar diversas partes que interagem em um espaço limitado de que essa é uma tarefa desafiadora. E se tivéssemos alguma forma de antevermos eventuais interferências entre o escopo de diferentes disciplinas? E se conseguíssemos simular na prática o processo executivo sendo discutido antes de chegarmos no momento da execução, onde o custo de mudanças é muito mais significativo? E se de alguma forma chegássemos a conectar diferentes tipos de dados ao ambiente a ser executado? Através da metodologia BIM (Building Information Modeling) todos esses pontos hoje são perfeitamente exequíveis, não somente para projetos de edificações, mas também para projetos de Infraestrutura e Capital. Assim sendo, durante a fase de execução dos projetos, através de iniciativas de digitalização da Engenharia é possível potencializar, e muito, o alcance das rotinas de Planejamento e Controle, exponencializando a Colaboração entre os envolvidos.

Após a análise cuidadosa dos exemplos supracitados fica mais simples entendermos como, na prática, como investimento (e não somente financeiro, mas principalmente de tempo e esforço) em Gestão através de uma infinita gama de possibilidades pode ser útil para alavancagem dos resultados de Projetos de Infraestrutura e Capital. Para aqueles mais adeptos à um vocabulário de avaliação de riscos, essas transformações na Gestão dos projetos se refletem em medidas de mitigação dos mais variados tipos de riscos não-sistêmicos aos quais esses empreendimentos podem estar submetidos. E é por isso que a Colaboração deve se encontrar sempre ao centro, ao lado de palavras como Integração, Produtividade, Previsibilidade, Segurança e Qualidade, uma vez que devem ser esses os targets a serem objetivados através da busca pela Excelência em nossos projetos.

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Autor: Guilherme Vaz, Senior Consultant of Capital Projects and Infrastructure na VerumPartners