O Brasil possui hoje cerca de 14 mil ativos em sua rede que precisarão ser substituídos em um espaço de curto e médio prazo, segundo informações do Operador Nacional do Sistema Elétrio (ONS). Tais ativos se encontram em final de vida útil, sendo necessário passarem por um processo de melhoria/retrofit , destaca-se que se faz necessário uma atenção especial sobre esse tema, uma vez que estas atualizações possíveis mente não serão repassadas através de leilões. 

Outra realidade do setor está relacionada ao movimento de venda e privatização de seus ativos. Destaca-se aqui a privatização da Eletrobrás, aprovada através da Medida Provisória nº 1.031/2021 e sancionada através da Lei nº 14.182/2021, onde é esperado que seja capitado pelo Governo Federal uma quantia aproximada de R$ 100 bilhões. 

ale destacar que a Eletrobrás é composta pelas seguintes empresas: CGT Eletrosul, Chesf, Eletronorte, Eletronuclear, Furnas, Itaipu Binacional, Cepel e Eletropar. Destas, as empresas Eletronuclear e Itaipu Binacional não serão privatizadas, aquela pois o Brasil detém o monopólio da exploração das atividades nucleares e esta, por se tratar de uma empresa binacional (o Brasil é sócio junto com o Paraguai). 

Mais ainda, através de decreto publicado em Diário Oficial da União no mês de setembro de 2021, foi criada uma empresa estatal, a Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBpar), com custo previsto de R$ 4 bilhões destinados a comprar o controle da Eletronuclear e a parte da Eletrobrás no capital da Itaipu. 

 

Novos investimentos no Setor 

Em decorrência da pandemia ocasionada pela COVID-19, o ano de 2020 registrou apenas dois leilões (um para geração e outro para distribuição), o que representa um valor investido da ordem de R$ 7,36 bilhões. Os demais leilões previstos para acontecerem neste ano foram postergados para o ano de 2021, sendo que até o momento foram captados cerca de R$ 12,2 bilhões em 5 leilões para geração e 1 para distribuição. 

Uma característica dos leilões ocorridos nos últimos anos está relacionada a alta competitividade, com uma média significativa tanto de proponentes, quanto de licitantes por lote, o que contribui para maiores deságios quando comparados aos valores obtidos nos leilões anteriores, com um deságio médio de 55,20% e 48,1 2% em 2020 e 2021 respectivamente. 

Alteração do Modelo Regulatório e Comercial do Setor Elétrico 

O Projeto de Lei nº414/2021 visa aprimorar o modelo regulatório e comercial do setor elétrico com objetivo principal de expandir o mercado livre, dentre outros assuntos. Agora, o que muda com a expansão do mercado livre? Com a aprovação do PL, o Brasil passará a ser o 4ª país no ranking internacional da Liberdade de Energia Elétrica, hoje ocupando o penúltimo lugar, conforme levantamento realizado pela Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (ABRA-CEEL) 

O estudo realizado pela ABRACEEL aponta que dos 56 países estudados, 62,5% tornaram a liberdade de escolha no setor de energia elétrica um direito para todos os seus consumidores, ou seja, a aprovação da PL fará com que o mercado livre de energia elétrica seja disponibilizado para todos os consumidores, inclusive os consumidores residenciais. Atualmente no Brasil, só tem liberdade de escolha os consumidores com demanda acima de 1.500 kW. O mercado livre representa 30% de toda a energia consumida no país e já entregou, em média, cerca de 40% de economia nas contas de luz em 2020. 

 

Os ganhos da utilização do mercado livre de energia são: 

– Poder de escolha da fonte de energia e período de contratação;  

– Redução do preço da energia e aumento da eficiência, através do aumento da competição;  

– Maior poder de negociação entre consumidor e fornecedor;  

– No âmbito contratual, previsibilidade, através da definição prévia do preço da energia. 

 

Em suma, é esperado que o setor energético brasileiro se altere bastante no curto e médio prazo, por meio do surgimento de novos entrantes no mercado e a das privatizações previstas pelo governo federal. Mais ainda, a longo prazo, espera-se que a matriz energética brasileira consolide ainda mais suas fontes de geração sustentável, através da inovação e introdução das usinas eólica offshore e do hidrogênio verde. 

FUTURO DO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO

 

OS IMPACTOS DAS MUDANÇASECONÔMICAS 

Com um novo cenário econômico após o impacto da pandemia, a dinâmica mudará no setor da energia. Essas mudanças trazem consigo novos desafios; assim, é fundamental entender este novo cenário, sua dinâmica e seus riscos de modo a manter a competitividade. Neste sentido, podemos destacar: 

O Mercado 

Mercado já se mostrou muito mais competitivo, com a prática de deságios agressivos nos leilões e com perda de marketshare. 

Os Players 

Está se demonstrando uma maior necessidade de coordenação entre os membros atuantes no setor. Existe uma forte tendência de pulverização dos líderes de mercado, o que acarreta no aumento da competitividade. Como diferencial, a comunicação efetiva com as comunidades se mostra como necessária. 

Fiscalização mais punitiva 

Os órgãos reguladores estão se mostrando muito mais atuantes. Multas, punições, assim como perda de receita por indisponibilidade, já fazem parte do novo cenário. Em casos mais graves, pode ser decretada até a proibição de participação em leilões. Tudo isso demanda um aumento da governança e diligência, com rigorosidade no compliance. Além disso, também podemos encontrar fornecedores em dificuldades financeiras.  

Baixo uso de novas tecnologias 

A não aplicação de novas tecnologias neste momento traz duras consequências para o setor. Isso acarreta a perda de eficiência, falta de coordenação e integração de dados, além da perda de competitividade e produtividade. Podemos considerar como uma das grandes responsáveis por deste efeito cascata, a burocracia para regulamentação de novas tecnologias. 

Melhoria na gestão de projetos 

As organizações que irão se destacar são aquelas que apostarem forte na melhoria nos processos e controles. Se faz necessária a aderência de novas tecnologias, assim como diligência na gestão socioambiental. Como foco no planejamento, será possível investir em projetos em locais remotos com uma melhoria considerável na gestão de riscos. 

Cultura de pleitos e disputas 

O setor ainda se mostra com uma forte cultura de pleitos e disputas. Esse comportamento acaba acarretando na perda de capital intelectual (demissões/turnovers), orçamentos mais apertados e a disseminação de uma baixa cultura colaborativa e integrada, sem a confiança necessária para a promoção de co-criação.