A construção é um setor que clama por inovação e melhoria de produtividade, ela é a maior indústria mundial, representa cerca de 13% do PIB global, e embora seu tamanho, nas últimas duas décadas esse setor cresceu apenas 1% em produtividade, 2,8% na economia mundial e 3.6% em manufatura. Os dados são do PMI e alarmantes para quaisquer profissionais da área. Mas parece que os ventos começam a mudar, ao menos por aqui neste ano de eleição.

Semana passada o governo lançou o programa Construa Brasil que tem como foco desburocratizar a construção no País, e junto com o programa um portal para facilitar o acesso a informação, que vai desde boas práticas para conseguir alvarás até videos de como utilizar o BIM.

A medida vai de encontro às necessidades crescentes de um mercado em expansão. A câmara brasileira da industria de construção divulgou que no ano de 2021 o crescimento da indústria foi de 7,6% e o Índice de Confiança da Construção (ICST) chegou a 97,7 pontos, o maior número desde junho de 2014.

Soma-se a isso um ambiente crescente de construtechs buscando facilitar o acesso da tecnologia voltada à construção, com soluções que vão desde IOT aplicada à construção, até marketplaces de locação de equipamentos, são exemplos de possíveis disrupções que vem pela frente, mas as barreiras à entrada ainda são mais fortes do que é necessário para tornar escalável algumas dessas soluções.

Dentre as principais dificuldades encontram-se:

1. Mão de obra desatualizada em novas práticas e metodologias;

Uma das principais dificuldades do setor é o conservadorismo no que tange à prática da engenharia, muitas universidades ainda ensinam modelos defasados, e muitos profissionais no mercado ainda se recusam a se atualizarem com práticas como o BIM e Métodos Ágeis.

2. Produtos altamente artesanais com baixa padronização;

O fato da construção ser uma fabrica criada para fazer um produto, torna este produto algo extremamente artesanal, embora diversas soluções já tenham sido propostas, desde Henry Ford com sua Dymaxion até construções modulares do Brasil ao Cubo

3. Regulamentações locais;

Cada região possui sua próprias regulamentações, plano diretor e código de obras a serem seguidos, a falta de padronização para obtenção de licenças e dos próprios sistemas das prefeituras é um entrave à escalabilidade de soluções construtivas, gerando restrições à atividade construtiva.

4. Dificuldades logísticas;

Embora muito associado ao segundo item, o problema de logística refere-se diretamente à cadeia de suprimentos, altamente complexa e sujeita a variabilidades políticas à sazonalidade de alguns itens da cadeia produtiva. Variáveis como preço do petróleo, minério de ferro e até mesmo guerras acontecendo a nível internacional impactam diretamente o preço de insumos da construção. O resultado são pedidos de mudanças que alteram as premissas iniciais de forma imprevisível.

5. Silos construtivos com baixa colaboração:

Tanto internamente nas empresas quanto no próprio mercado existem silos que influenciam negativamente toda a capacidade produtiva do setor. Um projeto de construção normalmente é dividido em etapas de seu ciclo de vida, e cada etapa envolve um número grande de especialistas e projetos que por vezes trabalham de maneira separada, causando problemas de compatibilização, retrabalho e desperdícios.

Existem no entanto diversas apostas promissoras para resolver tais problemas e ajudar a industria da construção se tornar uma industria 4.0, dentre as principais:

Solução 1: Utilização de práticas modernas para aumento de produtividade, como Agilidade, Lean, IPD, AWP , ESG e BIM em projetos.

Porque essa solução?: estamos vivendo um mundo volátil e incerto, onde a capacidade produtiva está intrinsecamente ligada à capacidade de responder às mudanças e crescer com elas. Investir em práticas modernas significa aumentar a capacidade do seu time de navegar em meio à complexidade.

Como essa solução irá ajudar: práticas como o IPD auxiliam já na formação de contratos, quebrando os silos já na raiz do relacionamento, AWP busca melhorar a previsibilidade criando um sistema puxado, padronizado e priorizado. A agilidade busca o desenvolvimento de engenharia gerindo e estabilizando o fluxo de trabalho, aumentando a capacidade de resposta dos times, e reduzindo os danos da imprevisibilidade. Já o Lean auxilia não apenas na construção “Limpa/enxuta” mas também na visualização de restrição e retirada de impedimentos, enquanto o BIM dá suporte a todas as etapas do projeto, possibilitando aos projetistas testarem suas ideias com a engenharia digital. Por fim, o ESG irá nutrir e se alimentar de informações e requisitos durante toda a fase do projeto.

Solução 2: Construções baseadas em DFMA

Porque essa solução?: DFMA significa Design For Manufacture and Assembly e refere-se ao desenvolvimento da engenharia pensando na produção e na execução in loco. É uma nova forma de pensar o produto construção.

Como essa solução irá ajudar: DFMA busca reduzir o número de variáveis na equação, padronizando os elementos construtivos, fazendo com que eles só possam ser encaixados de uma determinada forma (Poka-Yoke). A prática também busca reduzir o número de ajustes e personalizações na etapa de construção, padronizando a cadeia logística, facilitando a regulamentação por meio de uma construção já padronizada, trabalhando todas as etapas do ciclo de vida do projeto, e aumentando a colaboração.

Solução 3: Digitalização do projeto de ponta a ponta

Porque essa solução?: Falamos de soluções para pessoas, falamos de solução para o produto, faltou uma solução para o processo. O processo não é visto, ele é um trabalho do conhecimento, um sequenciamento lógico de operações interconectadas e que ocorrem de forma cíclica para produzir um resultado. No seu âmago, é informação trocada e produzida e de forma a otimizá-la é necessário levá-la para a era digital.

Como essa solução irá ajudar: Informação é sangue que flui no corpo de toda organização e de todo projeto, otimizar a forma como ela é gerada, analisada, coletada e oferecida é crucial para o aumento da produtividade, da construção. Soluções de ERP e de Marketplace auxiliam no fluxo de informações e na padronização de soluções disponíveis. Soluções omnichanell e blockchain tanto para fornecedores quanto compradores facilita o fluxo de informações e aumenta a colaboração entre órgãos reguladores e seus usuários. Soluções IOT podem ser aplicadas para gestão da cadeia logística de suprimentos, seja para controle de estoque e demanda, seja para controle de entregas, ou gestão de riscos. Enquanto soluções como realidade aumentada e realidade virtual são capazes de aumentar a produtividade e colaboração dos times que estão executando o empreendimento.

O setor da construção está passando por uma mudanças, e parece que a disrupção tão esperada enfim começa a bater na porta. Toda mudança é uma ruptura, uma fenda com o status quo, para vencer o abismo criado por ela própria, a inovação precisa de uma malha de cicatrização, um ecossistema capaz de fazer com que ela atinja patamares escaláveis de mercado. Estamos vivenciando ainda o início da curva de inovação, com um mercado se aquecendo e com um ecossistema surgindo e auxiliando na adesão dessas novas tecnologias. Esse parece ser um caminho sem volta, e agora resta apenas a pergunta:

Você está preparado para o que vai vir?

 

Autor: Raphael Costa, Agile Coach na Verum Partners.