Quando falamos em projetos de Infraestrutura historicamente somos condicionados a duas emoções iniciais: grande admiração e perplexidade sobre como todos os insumos e recursos chegaram até seus locais de implantação, muitas vezes remotos.

De fato, a característica Greenfield desses projetos impõe um desafio intrínseco a sua natureza que faz com que os mesmos normalmente demandem uma grande transformação do meio em que se encontram, além da formação de complexas redes de stakeholders do mercado que se unem com o propósito de executarem esses empreendimentos. Olhando sob esta perspectiva, os desafios para implantação de projetos de infraestrutura podem ser rapidamente comparados a um dos esportes mais populares da história da humanidade: o futebol. 

As semelhanças logo saltam aos olhos e não somente pela comparação lógica entre Projetos Greenfield e os lindos esverdeados campos europeus, mas sim pelo dinamismo do setor de Infraestrutura, bem parecido com o mercado do futebolístico. Enquanto nas empreitadas de construção são reunidas por vezes milhares de pessoas para execução de um escopo específico em um espaço de tempo de poucos anos, no campo esportivo as jornadas também costumam ter curta duração, sendo as equipes praticamente refeitas cerca de 3 a 4 vezes por década.  

Outra similaridade diz respeito à evolução da forma como projetos de infraestrutura e equipes de futebol se especializaram ao longo do tempo. Enquanto a parte física impõe-se como um fator dominante para o aumento da velocidade do esporte, o advento da tecnologia também acelera a interface entre as partes envolvidas de um projeto de construção, impondo a necessidade de que as diversas engrenagens que o compõem estejam muito bem sincronizadas. Podemos ir ainda mais a fundo e fazer uma comparação direta entre as funções de uma equipe e as metodologias atuais consideradas melhores práticas para aplicação em projetos.

 

 

  • Técnico / ESG: Assim como um treinador nos dias atuais deve estar antenado às movimentações e tendências de mercado, além de ser o responsável pela definição da governança da equipe, a implementação do ESG (Environmental, social and corporate governance) atualmente torna-se essencial não somente para garantir que o empreendimento esteja em conformidade com as melhores práticas sustentáveis e sociais do mercado, mas também de modo a estabelecer diretrizes de governança para relacionamento entre a complexa rede de stakeholders formada para execução de projetos de infraestrutura; 
  • Goleiro / Contratos: Além da capacidade de manter a segurança das redes de sua equipe, os goleiros assumem a cada dia mais a função de articuladores nas equipes. A atuação como líbero de figuras como Neuer (Bayer de Munique), Ederson (Manchester City) e Everson (Atlético MG) sustenta o estilo de jogo de suas respectivas equipes. Da mesma forma, contratos colaborativos possibilitam uma interação mais fluída entre os membros de um dado empreendimento, além de estabelecerem uma base segura para que a transformação cultural do ecossistema possa ocorrer, rompendo com barreiras do status quo.  
  • Defesa / BIM e Soluções Digitais: Um velho ditado muito marcante no mundo do futebol já dizia que um bom ataque se constrói a partir de uma boa defesa. O setor de marcação representa a segurança de uma equipe e um bom entrosamento entre zagueiros e laterais potencializa o poderio ofensivo do time a medida em que libera a criação dos demais setores. Da mesma forma, a metodologia BIM, em conjunto com a vasta gama de Soluções Digitais, provê as bases para potencialização de metodologias como o AWP e o Lean, tendo impacto direto na ponta da cadeia produtiva de um empreendimento. À medida em que temos as informações da construção modeladas e estruturadas de forma sólida damos liberdade para aproveitamento de suas saídas seja em uma visão 3D, 4D, 5D e afins. Cada dimensão BIM representa então uma forma de se atacar desafios diferentes, assim como variamos formações ofensivas de forma a nos adaptarmos aos desafios impostos por cada adversário. 
  • Meio Campo / AWP: Como já dizia Samuel Rosa, o meio campo é o lugar dos craques, sendo assim local mais do que adequado para uma reconhecida melhor prática de mercado. Entretanto analisando mais a fundo, percebemos que o meio campo é o responsável pela articulação entre os setores e que o mesmo acaba ditando a relação entre Defesa/Ataque, assim como o AWP age como grande estruturador da abordagem de planejamento em projetos. Assim como a implementação do AWP nos entrega ganhos de produtividade e previsibilidade, um meio campo bem armado nos entrega uma equipe mais dominante e produtiva (quem nunca ouviu a expressão: “O time vencedor foi melhor porque ganhou o meio campo”?). 
  • Lean: Assim como em uma partida de futebol toda a estratégia é validada pelo sucesso em se marcar gols (normalmente pelos atacantes da equipe), quando falamos da transformação em um ambiente de projetos de Infraestrutura, o sucesso da implementação das diferentes metodologias supracitadas também é muitas vezes colhido no desdobramento das mesmas para a rotina das pessoas, no contato com a ponta! Nesse sentido, o mindset Lean nos oferece uma forma de pensar focada em eliminação de desperdícios e aumento na agregação de valor. Em uma equipe temos muitas vezes, zagueiros, laterais, meio campos e até mesmo goleiros artilheiros, uma perfeita analogia com a exponencialização dos resultadas de abordagens em ESG, Contratos, BIM, Soluções Digitais e AWP que conseguimos através de um mindset Lean. 

Assim como a seleção Holandesa de 1974 apelidada de “Laranja Mecânica” ou a equipe do Barcelona de Guardiola de 2015 nos encantavam com a perfeita sintonia entre os diferentes componentes de suas verdadeiras orquestras, a abordagem integrada de metodologias caracterizadas como melhores práticas de mercado nos fascina hoje pelo perfeito encaixe entre esses componentes de uma engrenagem.

A Gestão Integrada nos possibilita então INTEGRAR as diferentes partes envolvidas nos projetos, amplificar a COLABORAÇÃO vertical e transversal em uma cadeia de fornecedores e clientes além de nos trazer ganhos de PREVISIBILIDADE e PRODUTIVIDADE a medida em que orquestra os membros do projeto em um verdadeiro “Tiki-taka” (expressão que remete à Seleção Espanhola campeã da Copa do Mundo FIFA em 2006). Da mesma forma que ainda olhamos para grandes equipes do passado como o Santos de Pelé (1956–1974) com enorme saudosismo e admiração, também nos espelhamos em obras primas da engenharia no passado para construir as bases para as abordagens em projetos atualmente. Afinal de contas, apesar de o conhecimento evoluir com o tempo na sociedade, a busca da melhoria contínua nunca estará fora de moda.   

Autor: Guilherme Vaz, Senior Consultant of Capital Projects and Infrastructure na VerumPartners