Alinhando ESG e Transição Energética: O Papel das Empresas na Construção de um Futuro Sustentável
O mundo vem caminhando para a mudança da matriz energética, alinhada com os compromissos globais de redução de emissões. Globalmente, esse é um movimento que pode ser observado em vários países.
A União Europeia se comprometeu a reduzir as emissões de GEE em 55% até 2030 e alcançar a neutralidade climática até 2050. Para tanto, a UE está investindo massivamente em fontes renováveis de energia, conforme informação divulgada pelo Conselho da UE em 8/11/22 (fonte: europa.eu). Por outro lado, a China se posiciona como maior investidor em energia renovável do mundo, e trabalha para aumentar a participação das fontes renováveis em sua matriz energética. Segundo estudo da Energy Foundation China a parcela de energia não proveniente de combustíveis fósseis representará cerca de 25% da matriz chinesa até 2030, um aumento dos atuais 20% até 2030 estipulado no NDC, conforme divulgado pelo WRI Brasil em out/20 (fonte: WRI Brasil). Seguindo a mesma pauta, os Estados Unidos têm como objetivo aumentar a participação das fontes renováveis na sua matriz energética e reduzir as emissões cerca de mais de 50% até 2030, conforme promessa do atual presidente e candidato a reeleição dos EUA Joe Biden (fonte: O Eco).
No Brasil, o compromisso de redução das emissões é ainda mais arrojado. A meta de redução de emissões de GEE é de 48% até 2025 e 53% até 2030. Para alcançar esse resultado, sem prejudicar o desenvolvimento econômico e, principalmente, o bem-estar da população, algumas das medidas são importantes e divulgadas no site oficial do governo Veja só:
- Combate total ao desmatamento ilegal até 2028;
- Restauração e reflorestamento de 18 milhões de hectares de florestas até 2030;
- Aumento da participação das energias renováveis na matriz energética para 45% a 50% até 2030 (fonte: gov.br);
- Promoção da eficiência energética e o uso racional de energia;
- Desenvolvimento de tecnologias;
- Investimento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de descarbonização; e Cooperação com outros países para enfrentar o desafio das mudanças climáticas.
Sistema de Leilões de Energia
Com base nesses desafios e iniciativas, a Aneel vem realizando rotineiramente leilões para contribuir com essas metas e garantir o crescimento da matriz energética renovável brasileira, conforme previsão de demanda dos estudos da EPE. Em seu Plano Decenal de Expansão de Energia 2031, estão estimados investimentos de cerca de R$ 3.252 Bi como mostrado a seguir:
Como os leilões funcionam?
Os leilões são separados em lotes e por tipo de investimentos, num formato que atendam às metas e sejam atrativos o suficiente para o mercado, incluindo empresas públicas ou privadas. Na verdade, cada lote tem um arranjo que permite ao vencedor atender à demanda prevista, ou seja, garantia de uma receita anual conforme o investimento descrito em Geração e/ou transmissão e/ou distribuição.
Além disso, cada lote tem seu prazo para começar a operar e um prazo para atender a demanda. Sendo assim, os proponentes conseguem realizar um estudo de fluxo de caixa e investimento necessário (viabilidade econômico-financeira) para ser apresentado no Leilão. Ou seja, cada proponente apresentará uma receita anual permitida (RAP). A empresa que apresentar a RAP mais competitiva ou menor é a vencedora do respectivo lote.
Diante disso, a competitividade do proponente está principalmente ligada à tecnologia e/ou solução empregada, eficiência na implementação do empreendimento, confiabilidade da operação da planta e financiamento competitivo.
ESG: fundamentos, importância e conexão com a Transição Energética
Além do fator financeiro, existem outros três considerados pelos investidores na avaliação do desempenho de uma empresa:
- Ambiental: avalia como a empresa gerencia impactos ambientais ocasionados por ela. A adoção de práticas ambientais responsáveis reduz os impactos negativos, além de mitigar riscos regulatórios e operacionais, bem como atrair investidores e consumidores engajados com o tema.
- Social: analisa as práticas da empresa em relação aos direitos humanos, condições de trabalho, diversidade e inclusão, saúde e segurança do trabalhador, impacto nas comunidades e engajamento de partes interessadas, entre outros. As empresas são cada dia mais avaliadas por seu impacto social, além dos resultados financeiros. Aquelas que tendem a ter uma reputação mais forte, menor riscos de controvérsias e litígios, são as que adotam práticas sociais responsáveis.
- Governança: aborda a gestão de riscos do negócio, à luz de princípios, como ética e transparência, seguindo uma estrutura de governança que inclui a composição do conselho de administração. Empresas com boas práticas de governança geram maior confiabilidade.
O olhar sobre tais pilares, comumente agrupados na temática ESG (Environmental, Social and Governance), não se limita apenas aos investidores. Os consumidores estão inclinados a escolherem empresas alinhadas ao seu propósito.
Dentro do eixo ambiental da temática ESG, um dos temas que vêm ganhando relevância em nível mundial por seu alinhamento à pauta das mudanças climáticas, é a transição energética.
Transição Energética: desafios e oportunidades
Assim como muitas transformações em nível global, a transição energética enfrenta diversos desafios, mas também traz consigo oportunidades a serem aproveitadas pelo mercado. Confira os principais:
Infraestrutura inadequada
A transição para fontes de energia renováveis, como solar e eólica, requer infraestrutura adicional, como redes elétricas inteligentes e sistemas de armazenamento de energia, que podem não estar prontamente disponíveis ou serem caras de implementar.
Custos iniciais elevados
Para algumas empresas e governos ainda pode ser oneroso investir em infraestrutura e tecnologia necessárias para fazer a transição para fontes de energia mais limpas, embora os custos de energia renovável tenham diminuído expressivamente com o passar dos anos.
Intermitência e variabilidade
Fontes de energia renovável, como solar e eólica, são intermitentes e variáveis por natureza, dependendo do clima e das condições meteorológicas. Na prática, elas podem representar desafios para a integração dessas fontes de energia na rede elétrica, exigindo soluções de armazenamento de energia e redes elétricas mais flexíveis e adaptáveis.
Resistência da indústria existente
Interesses econômicos e políticos de setores que dependem de combustíveis fósseis podem gerar entraves à transição para fontes de energias mais limpas.
Questões de custo-benefício
Quando os benefícios socioambientais não são devidamente quantificáveis ou se os custos de implementação são considerados impeditivos, mesmo com benefícios de longo prazo, a transição para fontes de energia mais limpas pode ser vista como economicamente desafiadora.
Necessidade de políticas e regulamentações claras
A falta de políticas consistentes pode gerar atraso no progresso para implementação de fontes de energia mais limpas, porque requer solidez e previsibilidade que incentive os investimentos que promovam a transição energética.
Desafios tecnológicos e de inovação
A eficiência energética, armazenamento de energia em larga escala e integração de sistemas de energia descentralizados ainda são desafios técnicos a serem superados, apesar de avanços significativos em tecnologias de energia renovável.
Oportunidades mapeadas com a Transição Energética
Além dos desafios, existem novas linhas de oportunidades proeminentes de negócios geradas pela transição energética, como inovação tecnológica e novos modelos de negócios sustentáveis:
Desenvolvimento da Cadeia de Valor de Energias Renováveis
O crescimento contínuo das energias renováveis, como solar, eólica, hidrelétrica e biomassa, cria oportunidades para empresas envolvidas na fabricação, instalação, manutenção e operação de infraestrutura de energia limpa. A oportunidade alcança fabricantes de painéis solares, turbinas eólicas, sistemas de armazenamento de energia e equipamentos relacionados.
Tecnologia de Armazenamento de Energia
Empresas que desenvolvem baterias avançadas, sistemas de armazenamento de hidrogênio, armazenamento térmico e outras soluções de armazenamento têm uma oportunidade significativa de crescimento, dada a alta demanda por esse tipo de serviço.
Tecnologia de Eficiência Energética
Empresas provedoras de soluções para melhorar a eficiência energética em edifícios, transporte, indústria e outros setores podem encontrar oportunidades em áreas como eficiência de iluminação, isolamento de edifícios, veículos elétricos e sistemas de gerenciamento de energia.
Redes Elétricas Inteligentes (Smart Grids)
Empresas que oferecem tecnologias e serviços para modernizar e automatizar as redes elétricas, como sistemas de medição avançados, análise de dados em tempo real e controle de demanda, têm oportunidades de crescimento significativas. Isso porque o desenvolvimento de redes elétricas inteligentes é essencial para facilitar a integração de fontes de energia renovável e a gestão eficiente da demanda.
Tecnologia Blockchain para Energia
Empresas que desenvolvem soluções de blockchain específicas para o setor de energia têm a oportunidade de transformar o modo como a energia é produzida, distribuída e consumida. Essa tecnologia tem sido amplamente mais explorada no setor de energia para facilitar transações descentralizadas, rastreamento de energia renovável, gerenciamento de redes elétricas e negociação de créditos de carbono.
Com o crescente interesse em práticas sustentáveis, há uma demanda expressiva pelos serviços de consultoria em energia limpa, certificação ambiental, financiamento verde e investimento em projetos renováveis. Dessa forma, companhias que oferecem serviços de consultoria e financiamento verde podem ajudar outras organizações a navegar na transição energética e aproveitar oportunidades de investimento sustentável.
Em síntese, as empresas vanguardistas da inovação tecnológica, que adotam modelos de negócios sustentáveis, terão grande abertura para captar essas oportunidades e contribuir para um futuro sustentável.
ESG e Transição Energética: uma conexão vital
A transição energética está conectada com os três eixos de ESG, por diversas razões:
#1 Eixo Ambiental
A redução das emissões de gases de efeito estufa e a mitigação das mudanças climáticas contribui diretamente para a transição energética, tendo em vista o objetivo de reduzir a dependência de combustíveis fósseis e promover fontes de energia renovável e limpa, tais como: solar, eólica e hidrelétrica;
Além disso, esse eixo também direciona esforços para a preservação de ecossistemas frágeis, redução da poluição do ar e da água, proteção da biodiversidade e práticas de energia limpa.
#2 Eixo Social
A transição energética tem consequências sociais relevantes, principalmente naquelas comunidades que dependem da indústria de combustíveis fósseis. Dessa forma, é necessário considerar e mitigar os impactos, como desemprego e deslocamento de trabalhadores, para garantir que a transição seja justa.
De outro modo, a expansão de energias renováveis pode gerar novas oportunidades de emprego e desenvolvimento econômico em áreas anteriormente afetadas pela poluição industrial e pela exploração de recursos naturais.
#3 Eixo Governança
A definição de políticas e regulamentações sólidas é fundamental para que a transição energética seja conduzida de forma gradual e eficaz. É necessário coordenar esforços entre governos, empresas e partes interessadas para estabelecer uma boa governança.
As práticas de governança transparentes, éticas e responsáveis devem ser demonstradas pelas empresas que lideram a transição energética. No universo ideal, tais companhias devem divulgar informações precisas sobre emissões de carbono, estratégias de mitigação e estabelecer uma relação próxima com as partes interessadas impactadas pelos negócios.
O caminho para a transição energética
A aceleração da transição energética é extremamente necessária para a promoção de práticas sustentáveis. Portanto, é importante que empresas e governos trabalhem juntos nessa agenda, para vencer desafios, tais como os que vimos neste neste artigo, além de maximizar as oportunidades.
O cenário atual, marcado pela realização de diversos leilões, contribui de maneira relevante e expressiva para a promoção do crescimento da matriz energética renovável brasileira hoje e nos próximos anos.
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Autores: Fernanda Faria, Líder de Projetos ESG na Verum Partners e Pedro Penna, Consultor Sênior na Verum Partners